sábado, 21 de janeiro de 2012

A virginiana

A virginiana
Michelle Valle

Eu venero minha insônia
Eu venero meus gemidos
Venero a peste bubônica
E os meus cinco sentidos

Eu compro minha paz
Eu alugo minha felicidade
O prazer contínuo não me satisfaz
Sou dependente da animosidade

Não bato em portas
Eu pulo degraus
Não uso botas
O salto delas me faz mal

Eu corro para os cantos
Eu fumo tabaco
Descasco paredes
Incendeio os matos

Eu arranho minhas pernas
Eu me jogo n’água
Me apaixono por pedras
Economizo mágoas

Eu durmo pelo dia
Mas continuo acordada
Faço do meu corredor uma via
A minha cama é imaculada

Dou nós no meu carinho
Aponto minha tristeza com uma faca
Enveneno os espinhos
Meu tapete é uma maca

Eu vejo fantasmas
Eu vejo elefantes
Meu perfume exala miasma
Meus livros dançam na estante

E eu
Quem sou eu agora?
Será que estou bem?
Quando será que irei embora?

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